A paixão pelo sertão nordestino
Fazer um relato das minhas experiências em Canudos Velho – BA este ano é um desafio enorme, e eu acredito que essa dificuldade venha da complexidade dessa vivencia, já que tudo lá é tão intenso e tão diferente. O céu é outro, o horizonte é outro, o sol é outro, e o próprio tempo não se parece em nada com esse tempo matemático que os nossos relógios marcam de forma tão fria. Um dia lá tem em média 50 horas, e uma semana pouco menos de 30 minutos, por isso, em poucas horas de estadia, parece que já estamos lá há tempos, e no fim, quando vamos embora, parece que acabamos de chegar. Tudo o que acontece lá ocorre de uma forma tão extraordinária e natural que fica difícil sintetizar qualquer tipo de aprendizado ou sentimento. Peguei-me sozinho muitas vezes, pensando, no caminho de volta para a casa de Dedê, minha mainha baiana, no meio da noite ou da madrugada, tentando entender o que deveras eu estive vivendo ali aqueles dias todos. Sendo este o meu segundo ano de projeto, cheguei a conclusão de que eu ainda não havia sido capaz de compreender sequer as minhas primeiras experiências, aquelas, vividas um ano antes. Eu poderia dizer muito da simplicidade daquele povo, dos sorrisos, dos abraços ou de qualquer forma de afeto. Das crianças que vivem agarradas em nossos pescoços ou das lágrimas que derramei ao longo do projeto. Eu poderia falar ainda de todas as ações que nós, alunos e profissionais, fizemos juto a população do povoado de Canudos Velho, mas nada, nada disso, poderia explicar o que eu vivi naquele lugar. Talvez eu ainda não esteja pronto para compreender isso. Quem sabe eu deva dedicar daqui em diante muitas outras horas, horas essas de relógio mesmo, para tentar quem sabe, até a próxima edição, compreender o que de fato fez com que eu me apaixonasse por aquele lugar, mas ainda assim acho que eu não poderia. Podem me dar 100 ou 1000 páginas em branco, mas nada do que eu colocar em palavras vai explicar esse sentimento que me toma sempre que ponho meus olhos no pôr-do-sol do horizonte do sertão nordestino.