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Duas semanas já se passaram desde que deixamos São Paulo rumo ao vilarejo, povoado, distrito, enfim, nesse território dentro do sertão da Bahia ainda sem definição precisa, chamado Canudos Velho. Confesso que a ansiedade e as expectativas eram muitas; nos planejamos para por em prática diversas ações e finalmente chegou a hora em que iríamos de fato realizá-las. Apesar das reuniões e conversas com coordenadores e alunos veteranos do Projeto Canudos, eu não sabia muito bem o que esperar da comunidade, e qual o real impacto do Projeto na vida dessas pessoas. Como aluna de Rádio, Tv e Internet, eu deveria, além de cobrir toda a ação do projeto, entender como a minha formação poderia contribuir com a comunidade de Canudos Velho. O vilarejo fica localizado a 8 km de Bendegó, um bairro do município de Canudos Novo, sendo estes interligados por uma estrada asfaltada, facilitando assim o acesso ao bairro mais próximo onde os habitantes de Canudos Velho podem fazer compras, ter acesso ao posto de saúde e à escola de ensino fundamental. Resumidamente, podemos dizer que Canudos Velho é um vilarejo isolado e com falta de atendimentos em diversas áreas, e não somente a da saúde. Portanto, a equipe de comunicação veio a Canudos, não somente para dar visibilidade ao Projeto, mas também à comunidade. Estamos realizando um documentário sobre as mulheres canudenses, coletando, de casa em casa, entrevistas. Essa “peregrinação” me fez entender mais a fundo como essas mulheres vivem e o quanto são batalhadoras. E, para entender tudo isso, fomos mais além: fizemos também um resgate sobre o que os próprios canudenses sabem sobre a história de Canudos. Essa visão panorâmica que os depoimentos dados durante as entrevistas fez com que eu, de fato, me colocasse no lugar do outro. Quando cheguei ao vilarejo, saberia que viveria por duas semanas uma realidade muito diferente da minha, mas, com essa vivência tão intensa, eu pude compreender como essas mulheres vivem em meio ao sertão e suas relações com a terra, a água, o tempo, sua saúde, a família... Paralelo a isso, realizamos também um curta metragem, e foi muito bacana poder contar com a participação da comunidade, afinal, o processo de realização de um filme é muito intenso, sobretudo debaixo do forte sol canudense, porém imensamente gratificante; mal vejo a hora de poder ver as reações das pessoas na exibição que acontecerá no sábado. As oficinas de fanzine e fotografia também foram muito enriquecedoras. Foi bonito ver a vontade que as pessoas daqui tem em registrar, por meios de fotos e imagens, o que vivem por aqui. Realizar o Cinemuro, com a exibição de curtas metragens independentes foi muito gratificante. Pude perceber, em meio à plateia escura, diversas risadas e comentários durante as duas exibições; uma em Canudos Velho e a outra na fazenda Chora Menino, comunidade ainda mais isolada, que conta com energia elétrica há aproximadamente um ano e meio. Algumas pessoas vieram apenas para assistir aos filmes e muito me emocionou o forte abraço que ganhei do seu Jonas, que logo me perguntou: “ano que vem vocês voltam, não?”. Acredito que a equipe de comunicação tenha cumprido sua missão de, não só cumprir com as ações planejadas, mas também realizar projetos que visem a auto sustentabilidade da comunidade, para que os próprios habitantes possam dar continuidade àquilo que ensinamos. A experiência como um todo foi muito grandiosa. Evoluí não apenas como profissional, mas também como pessoa. Pude perceber a importância do ofício que escolhi em uma comunidade e confesso que isso conforta meu coração. Volto agora para São Paulo ainda digerindo tudo o que vivi em Canudos Velho nessas duas semanas e confabulando possíveis rolês por aí por esse mundão. Obrigada, Projeto Canudos!

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